Terminamos em grande o nosso ciclo de entrevistas, com Andrea Portugal Deveza, arquitecta de paixão, blogger, mãe de gémeos por amor e mulher por vocação.
Uma mãe prática, descontraída, aventureira e sempre sorridente. Com espírito inovador e cheia de projectos.
1. Quando descobriu que estava grávida de gémeas
como foi a sua reacção?
Acho que tive um misto de emoções, fui sozinha à
consulta com aquele ar de “vou ali num instante só confirmar que estou grávida
e já venho”... claro que quando a médica iniciou a ecografia e me disse “são
dois” eu respondi “pois são, são já dois meses de gravidez!” ela deu uma
gargalhada e disse que eram dois bebés, eu chorei, acho que também dei um grito
e sorri por fim e acrescentei “posso ver?” e quando vi duas bolinhas no ecrân,
embora sem perceber bem o impacto que iam ter na minha vida, chorei muito de
emoção... tive medo, acho que foi o primeiro medo a sério que tive, mas no
fundo senti uma sensação de “devo ser uma pessoa especial para merecer dois!”
contar ao pai foi um stress, comecei a chorar e ele
pensou no pior, depois disse-lhe baixinho “são dois...” e ele respondeu “ok,
tudo bem, mas não quero um carrinho de gémeos daqueles horrorosos!!” estávamos
prontos para o que desse e viesse!
2. Como decorreu o período de gestação?
Bom, não tenho outra gravidez com que ocmparar, mas a
mim pareceu-me perfeita. Tive muitos enjoos nos primeiros 3 meses, se bem que
como só percebi que estava grávida já com 7/8 semanas, foi só 1 mês intenso de
enjoos, só me dava bem quieta e a comer pão... engordei claro, mas no dia dos
meus anos, quando fiz 12 semanas de gravidez não enjoei e daí para a frente
nunca mais. Passei a gravidez até aos 7 meses em Moçambique, e se agora
engravidar outra vez, volto para lá! Correu tudo lindamente e vim para Lisboa
tê-los porque não vinha a casa há quase 2 anos. Nasceram ás 37 semanas e embora
tivesse tido a tensão alta, correu tudo lindamente... tirando um episódio...
3.
Relativamente ao parto, como foi a sua
experiência? Quantas semanas tinham os seus gémeos quando nasceram? Precisaram
de cuidados especiais?
Como disse nasceram ás 37 semanas, bons e altos, o M com
2890gr e o F com 2650gr. Fui de urgência para o SFX, eu a conduzir, porque
tinha a tensão muito alta e lá fomos. Quando cheguei fiz uma ecografia e a
médica em questão, uma pessoa que já deve ter visto muita coisa e ganhou uma
certa insensibilidade ao longo dos anos, disse-me “tem um bebé morto”... nem
lhe dei muito espaço para desenvolver e respondi “não é verdade, estão os dois
bem”, os olhos encheram-se de lágrimas e as mãos não largavam a barriga, não
raciocinei muito, simplesmente senti que não era verdade, chamei instinto, eu
chamo ser mãe... mais um bocado e mais uns toques e mais uns longos minutos e a
médica, repito, insensível ao máximo, diz “ah não, afinal está aqui!” até
parecia contente, mas eu já não vi mais nada, chorei ocmo nunca chorei na vida
e acho que lhe pedi “tire-os por favor, quero pegar neles” medo, de novo aquele
medo que senti na primeira ecografia, tinham passado meses a apaixonar-me pelos
dois, antes que acontecesse qualquer coisa, queria-os nos braços.
4.
Teve algum apoio após o nascimento dos gémeos?
Tive. De família, mas senti-me, confesso, muito
clautrofóbica. Percebo que seja essencial, mas abafaram-me, abafaram-nos. Há
anos que vivia sozinha com o A e tinhamos necessidade de estarmos só nós, com
os bebés. Eu precisei de muito espaço, não consegui lidar muito bem com as
ajudas, até porque não era só ajuda, era uma invasão da minha, nossa,
privacidade. Ficámos em lisboa apenas 2 meses, nem isso, e quando voltámos para
moçambique, voltei a sentir-me confiante na mãe que era, na mãe que queria ser.
Comecei a conseguir ficar encantada com eles, coisa que com a família em cima,
por mais boa vontade, não conseguia fazer porque quando tinha tempo para estar
ali quieta a olhar para eles chegava mais alguém e queria tratar, pegar, fazer,
mexer, cheirar, enfim... tudo a eles e nada para mim. Pode parecer egoísta, mas
a mãe também precisa de muito mimo e eu senti-me mais sozinha que nunca, até
passar a sermos nós e eles. Precisei dessa solidão, desse destaque para me
sentir confiante que aquilo que eu queria, escolhia para eles era o melhor.
5. Optou pelo aleitamento materno? Se sim, até
quando e como conseguiu?
Aconteceu da maneira mais natural de todas, no SFX a
enfermeira que me seguia no recobro onde estive 24h para ter a tensão sempre
vigiada, passado nem 1h do parto
chegou-se e disse “Vamos a isto? Quer?” e eu muito timidamente respondi que
sim. Ia com a ideia de que uma mãe de gémeos não tem leite suficiente. Correu
lindamente. Dei de mamar até aos 7 meses. Parei apenas porque quis começar a
voltar ao atelier, mesmo que em parti-time, e como já bebiam biberon do meu
leite alternado do em pó à noite, acabaram por nem notar a diferença. Só
introduzi sopas aos 5 meses e até aos 7 só comiam almoço e leite. Foram sempre
gordinhos e cheios de energia. Foi muito bom para mim dar-lhe algo tão bom, mas
sempre pensei que não era obrigada a nada e para cada refeição, antes de os
meter ao peito perguntava “consigo mais esta?” e lá ia eu. Introduzi o biberon
aos 4 meses com o meu leite para que o pai pudesse ajudar à noite, para eu
voltar a ter horários de gente adulta! Até isso o pai nunca acordava de noite,
não sou uma super-mulher mas enquanto conseguisse dar ocnta das coisas gostava
desse controlo.
6. Como é o seu dia-a-dia enquanto mãe de gémeos?
Neste momento com 3 anos e quase meio, o meu dia
mesmo assim ainda é a pensar neles. De manhã preparo-os para o colégio, visto,
lavo, dou pequeno-almoço, comemos os três juntos, e conversamos muito. O pai
enquanto isso prepara-se para sair com eles, quando estão prontos saiem os três
e vão a pé pelo bairro para a escola. Eu entretanto preparo-me e saio e também
a pé vou trabalhar. Tenho um horário perfeito, porque entro mais tarde e saio
mais cedo. Quando saio vou pelo bairro de volta a pé e ou trato de algumas
coisas que preciso tratar, ou vou tomar café com calma e vou busca-los. Sei que
adoram ficar na brincadeira e eu gosto de saber que estão entretidos.
Normalmente lanchamos juntos e vamos a pé para casa. Hoje em dia acho que em
termos de tarefas diárias não são “gémeos” mas sim “irmãos”, mas em termos de
fase de vida, agora sim sinto que sou mãe de “gémeos”, ou seja, sou mãe de duas
crianças completamente diferentes mas na mesma fase da vida, com necessidade de
atenção igual e vontade de expressão igual. Até há 1 ano eu acho que era tudo
mais ou menso igual, o que fazia com/a um fazia com/a outro. Agora temos
mini-gente!!
7. Que conselhos daria a uma mãe de gémeos?
Acho que o mais importante para uma mãe de gémeos,
que sejam primeiros filhos, sim porque existem grandes diferenças, é saber que
nós somos mães e temos todas as capacidades para decidir o que é melhor para
eles e melhor para nós. Ajudas são boas desde que sejam respeitados os nossos
espaços, sejam eles o da família sejam o nosso individual. E finalmente que é
muito importante pegar num filho apenas e ir passear!!
Ter dois filhos ao mesmo tempo não deve ser fácil. Tenho medo de se algum dia tiver essa dádiva não ser forte o suficiente para suportar, e isso assusta-me!Um beijinho
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