Hoje temos aqui a 2ª entrevista à nossa mãe de gémeos, Sónia Gomes. Mais um relato impressionante, que me deixou de lágrimas nos olhos! Obrigada por esta partilha de sentimentos e que nos leva a acreditar no milagre da vida!
1. Quando descobriu que estava grávida de gémeas como foi a sua reacção?
Passados 3 anos de ter tido uma gravidez gemelar expontânea da qual sofri um aborto às 9 semanas, decidi ( e porque já ía nos 36..) fazer um tratamento de fertilização na tentativa de finalmente engravidar. Tive sorte porque apenas fiz um tratamento ( no qual implantaram 2 embriões) e deu certo!
1. Quando descobriu que estava grávida de gémeas como foi a sua reacção?
Passados 3 anos de ter tido uma gravidez gemelar expontânea da qual sofri um aborto às 9 semanas, decidi ( e porque já ía nos 36..) fazer um tratamento de fertilização na tentativa de finalmente engravidar. Tive sorte porque apenas fiz um tratamento ( no qual implantaram 2 embriões) e deu certo!
A reacção quando soube que estava
grávida e que tinham " pegado" os 2...foi de uma imensa alegria/ medo...
( afinal tinham-nos dito que só em 8% dos casos ficam os 2 embriões!!)
.Queria muito ter um filho mas também não pedia tanto! Por ser médica
vieram-me logo todas as complicações possíveis e imaginárias à cabeça
misturado com o facto do meu companheiro já ser pai de 3!!( mais velhos,
claro)..esta paternidade para ele tinha sido muito difícil de decidir e
parecia que ter engravidado ...e de dois!..seria pedir muito! Ele
acabou por achar graça ( afinal já não era a primeira vez que tínhamos
esta notícia) e eu fiquei com a cabeça a mil!!! Depois do primeiro
impacto, restou o medo / pânico de os perder outra vez!
A gravidez...bom, correspondeu a todos os meus medos..
Depois
de "encaixar" que estava finalmente grávida..às 9 semanas tive uma
cólica renal! Uma pedrinha que teve tantos anos para sair...decidiu
encravar no meu ureter na pior altura! É de facto uma dor muito má e
tive que ir ao bloco operatório colocar um ' stent' ( uma espécie de
arame que se coloca no ureter através da uretra) para a pedra
sair..foram muitas dores antes e muitas depois...só com uma epidural é
que consegui ter sossego; entre antibióticos, anestesia geral ( neste
caso o mais inofensivo), analgésicos de toda a espécie , etc..o meu medo
ficou ao rubro..mas eles resistiram e lá continuaram a " bater" como se
tudo lhes passasse ao lado!
Depois deste episódio..às 12
semanas ( já sabia que era um casal :))..nova dor..do mesmo lado...sem
posição de alívio a não ser uma ligeira melhoria quando estava
literalmente de rabo para o ar! Aí julguei que morria porque ninguém
percebia o que se estava a passar..cólica renal não podia ser porque
tinha o stent; a ecografia também não foi muito elucidativa..e vai
daí..bloco operatório outra vez para retirar o stent..a dor não melhorou
grande coisa e, encharcada em analgésicos 24h depois , uma ecografista
lá conseguiu perceber uma hemorragia de um foliculo grande do ovário (
uma consequência da estimulação)...
Aqui achava mesmo que a gravidez já era mas, eles...mantiveram-se impávidos e serenos!! Tinham vindo para ficar!!
O
resto da gravidez, como imagina, foi sempre a pensar nas consequências
disto tudo! Apesar de dizerem que nenhum destes fármacos que tinha
tomado faria mal , nunca mais se tem sossego..
Cada ecografia para mim era um estado de nervos mas, esteve sempre tudo bem até... ás 28 semanas...
Pesadelo...o cordão da Madalena não estava a funcionar bem o que impedia que ela crescesse de forma adequada...PÂNICO !!
Saí
da clinica atordoada, a chorar baba e ranho e vim mostrar o resultado à
minha obstetra do hospital ( Amadora Sintra, onde trabalho)..fiquei
internada para repouso, corticoides ( para acelerar a maturação dos
pulmões) e com a expectativa de..ou melhorar o fluxo do cordão e ficar
de repouso até ao fim ou..ter 2 grandes prematuros..
3. Relativamente ao parto, como foi a sua
experiência? Quantas semanas tinham os seus gémeos quando nasceram? Precisaram
de cuidados especiais?
Oito
dias depois de ser internada (29 semanas + 3 dias), decidiram que era
melhor nascerem porque o cordão da Madalena não estava a melhorar e
havia riscos para a circulação cerebral.
Acho que durante esses dias estive num estado de nervos tal que parecia que falavam comigo e eu já nem ouvia nada...
O
dia D chegou e o único conforto que tinha era conhecer pessoalmente
todas as pessoas..escolher a minha anestesista, conhecer os obstetras e
os neonatologistas que os iriam receber..
Nasceram dia 18/4/12 de cesariana com 810g ( Madalena) e 1050g o Zé Maria.
Não
os vi porque me adormeceram um bocadinho..acordei sem dores, com as
pernas ainda pesadas da epidural e com a sensação de que ..tinha sido
operada e pronto!
Fiquei no recobro, sem bébés , com uma
espécie de alívio estranho por a situação de incerteza ter terminado e
um terror imenso de me virem dizer que não estavam bem ou coisa pior..
Fui
para o meu quarto e nesse dia só vi um pequeno filme deles a nascerem
gravado pela minha colega anestesista e outro que a neonatologista me
veio mostrar..
Não sei bem descrever o que senti...parecia que aquilo não era comigo!
Só os fui ver no dia seguinte , de cadeira de rodas, e um bocado entorpecida ..
Ela estava bem, a respirar sozinha (!) e ele tinha-se ido um bocado abaixo ..
Estive
10min com eles..num misto de..."são meus e nunca mais os deixo" e " o
melhor é não me ligar muito porque isto pode correr muito mal" ou pior
ainda, o meu maior terror..ficarem com sequelas...
Impossivel
de controlar estes sentimentos...as visitas de 4/4h tornaram-se de 2/2 e
ao fim de 4 dias estava das 9-21h com eles..esqueci-me das dores, das
meias elásticas , de tudo! Em casa, fechei a porta do quarto deles ,
todo bonito e preparado para os receber..não sabia quando!
O ZM ficou 60 dias internado e a Madalena 74..
Os
piores da minha vida..desabafava tudo num diário todos os dias ( que
guardei e não voltei a mexer!), deixei de atender telefones ( tarefa
que ficou para o pai) e durante esse tempo não houve fins de semana,
feriados..nada..só os altos e baixos que só percebe quem passou pelo
mesmo.
Sobreviveram a algumas complicações mas, apesar de
tudo, tiveram muita sorte ( e um olhar constante e acutilante da minha
parte)..houve os que tiveram complicações muito graves, os que morreram ,
os que saíram antes deles..
4. Teve algum apoio após o nascimento dos gémeos?
O
facto de ter estado 2 meses e meio numa unidade de cuidados intensivos,
rotinou muito os meus cuidados para com eles..tudo lá era uma rotina de
3/3h..comer, mudar a fralda, posicionar, aprenderem a mamar ( que não
sabiam)..
Falaram-me de umas senhoras auxiliares da pediatria
que faziam noites em casa destes bebês para ajudar as mães e ..foi a
coisa boa no meio disto tudo! Começaram a ir assim que foram para casa e
lá ficaram 1 ano! Foi um grande investimento da minha parte mas..depois
de tudo o que tinha passado, decidi que também tinha que pensar em mim
senão rebentava! Fiquei um ano em casa e aproveitei cada minuto deles
das 7.30 às 22.30..depois ía descansar. Foram uma ajuda preciosa para eu
conseguir dormir e por me ajudarem com questões básicas ( parece q ser
médica ás vezes só atrapalha) ..afinal nunca tinha sido mãe!
Os meus pais e principalmente a minha mãe foi outra grande ajuda!! Não posso imaginar o que teria sido isto tudo sem eles!
A
minha mãe ficava com a Madalena até à meia noite no hospital ( esteve
15 dias a mais que o ZM) enquanto eu vinha para casa cuidar do ZM e
ficava descansada porque sabia que só ela podia dar-lhe tantos mimos
como eu..
Ainda hoje me ajudam de tal forma que parece que se
tornou o novo objectivo da sua vida ( e não será sempre assim a vida dos
pais?!)..
5. Optou pelo aleitamento materno? Se sim, até
quando e como conseguiu?
Só
consegui tirar leite com uma bomba durante 15 dias ..enquanto bebiam
1-2ml de 3/3 h ainda chegava mas a verdade é que nunca consegui ter uma
grande produção..fruto das 29 semanas, do stress, da falta de ter o bebê
junto a nós...
Beberam leite humano do banco de leite da MAC durante uns dias e depois passaram a leite especial para prematuros..
Cresceram
bem, não têem qualquer tipo de alergias e em casa facilitou um pouco
estarem a biberões porque assim podia descansar à noite..
Fiquei com muita pena de não ter leite suficiente. Na altura era a única coisa que podia fazer por eles e nem isso deu!
As
pessoas que conheço que amamentaram gêmeos..só conseguiram um mês
mas..cada caso é um caso e envolve tantas variáveis! Não sou
fundamentalista da amamentação materna..acho que é importante mas, mais
ainda é ter uma mãe tranquila e que consiga descansar sem se sentir
culpada ou inferiorizada por não conseguir amamentar.
6. Como é o seu dia-a-dia enquanto mãe de gémeos?
O
dia a dia durante um ano foi basicamente passado em casa (
principalmente durante o inverno) com umas idas esporádicas ao Alentejo!
Sempre com uma pessoa atrás para me ajudar ( não posso contar com o pai
para as lides habituais porque já é um pai -avô e obviamente já passou
por isto 3 vezes de modo que agora, está só mesmo para a diversão com
eles! Adora brincar e passear mas o resto é da minha conta de maneira
que...entre uma ama fica com eles durante o dia ( comecei a trabalhar ao
fim de um ano) e a minha mãe..cá nós arranjamos! Já não tenho ajuda
durante as noites ( não dá para tudo!), embora continuem a ser bastante
agitadas..
Em resumo, tenho que ter sempre uma pessoa comigo principalmente se decido sair! Agora que já andam é mesmo preciso!
Tenho
tentado fazer programas adequados para a idade ( 18 meses), embora não
hajam muitos! Tento que saiam pelo menos de manhã ou à tarde..ao parque,
ás compras comigo, passear num jardim, enfim..às vezes...brincar e mais
brincar em casa!
7. Que conselhos daria a uma mãe de gémeos?
7. Que conselhos daria a uma mãe de gémeos?
Conselhos...acho que o mais importante é aceitarmos toda a ajuda que possamos sem nos sentirmos culpadas por não fazer tudo!
É
difícil ter 2 bebés no mesmo estadio de desenvolvimento e a terem as
mesmas exigências! É importante manter a calma mesmo nos dias mais
difíceis ( em que uma pessoa pensa...mas qual é a dificuldade de ter só
um???? Do que se queixam essas mães??).
Depois de um início
tão atribulado como eu e outras mães tiveram, fica a vontade de os
aproveitar a cada minuto, mesmo quando estão mais chatinhos...e
agradecer por serem tão mexidos e saudáveis! E é tão bom vê-los crescer e
ter personalidades tão distintas, a começarem a interagir um com o
outro ( sim, não é logo que isso acontece!) e aos poucos esquecer tudo o
que aconteceu !!
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