quinta-feira, 7 de novembro de 2013

2ª Entrevista à nossa Mãe de Gémeos

Hoje temos aqui a 2ª entrevista à nossa mãe de gémeos, Sónia Gomes. Mais um relato impressionante, que me deixou de lágrimas nos olhos! Obrigada por esta partilha de sentimentos e que nos leva a acreditar no milagre da vida!

1. Quando descobriu que estava grávida de gémeas como foi a sua reacção?
Passados 3 anos de ter tido uma gravidez gemelar expontânea da qual sofri um aborto às 9 semanas, decidi ( e porque já ía nos 36..) fazer um tratamento de fertilização na tentativa de finalmente engravidar. Tive sorte porque apenas fiz um tratamento ( no qual implantaram 2 embriões) e deu certo! 
A reacção quando soube que estava grávida e que tinham " pegado" os 2...foi de uma imensa alegria/ medo... ( afinal tinham-nos dito que só em 8% dos casos ficam os 2 embriões!!) .Queria muito ter um filho mas também não pedia tanto! Por ser médica vieram-me logo todas as complicações possíveis e imaginárias à cabeça misturado com o facto do meu companheiro já ser pai de 3!!( mais velhos, claro)..esta paternidade para ele tinha sido muito difícil de decidir e parecia que ter engravidado ...e de dois!..seria pedir muito! Ele acabou por achar graça ( afinal já não era a primeira vez que tínhamos esta notícia) e eu fiquei com a cabeça a mil!!! Depois do primeiro impacto, restou o medo / pânico de os perder outra vez!

2. Como decorreu o período de gestação?
A gravidez...bom, correspondeu a todos os meus medos..
Depois de "encaixar" que estava finalmente grávida..às 9 semanas tive uma cólica renal! Uma pedrinha que teve tantos anos para sair...decidiu encravar no meu ureter na pior altura! É de facto uma dor muito má e tive que ir ao bloco operatório colocar um ' stent' ( uma espécie de arame que se coloca no ureter através da uretra) para a pedra sair..foram muitas dores antes e muitas depois...só com uma epidural é que consegui ter sossego; entre antibióticos, anestesia geral ( neste caso o mais inofensivo), analgésicos de toda a espécie , etc..o meu medo ficou ao rubro..mas eles resistiram e lá continuaram a " bater" como se tudo lhes passasse ao lado!
Depois deste episódio..às 12 semanas ( já sabia que era um casal :))..nova dor..do mesmo lado...sem posição de alívio a não ser uma ligeira melhoria quando estava literalmente de rabo para o ar! Aí julguei que morria porque ninguém percebia o que se estava a passar..cólica renal não podia ser porque tinha o stent; a ecografia também não foi muito elucidativa..e vai daí..bloco operatório outra vez para retirar o stent..a dor não melhorou grande coisa e, encharcada em analgésicos 24h depois , uma ecografista lá conseguiu perceber uma hemorragia de um foliculo grande do ovário ( uma consequência da estimulação)...
Aqui achava mesmo que a gravidez já era mas, eles...mantiveram-se impávidos e serenos!! Tinham vindo para ficar!!
O resto da gravidez, como imagina, foi sempre a pensar nas consequências disto tudo! Apesar de dizerem que nenhum destes fármacos que tinha tomado faria mal , nunca mais se tem sossego..
Cada ecografia para mim era um estado de nervos mas, esteve sempre tudo bem até... ás 28 semanas...
Pesadelo...o cordão da Madalena não estava a funcionar bem o que impedia que ela crescesse de forma adequada...PÂNICO !! 
Saí da clinica atordoada, a chorar baba e ranho e vim mostrar o resultado à minha obstetra do hospital ( Amadora Sintra, onde trabalho)..fiquei internada para repouso, corticoides ( para acelerar a maturação dos pulmões) e com a expectativa de..ou melhorar o fluxo do cordão e ficar de repouso até ao fim ou..ter 2 grandes prematuros..

3.  Relativamente ao parto, como foi a sua experiência? Quantas semanas tinham os seus gémeos quando nasceram? Precisaram de cuidados especiais?
Oito dias depois de ser internada (29 semanas + 3 dias), decidiram que era melhor nascerem porque o cordão da Madalena não estava a melhorar e havia riscos para a circulação cerebral.
Acho que durante esses dias estive num estado de nervos tal que parecia que falavam comigo e eu já nem ouvia nada...
O dia D chegou e o único conforto que tinha era conhecer pessoalmente todas as pessoas..escolher a minha anestesista, conhecer os obstetras e os neonatologistas que os iriam receber..
Nasceram dia 18/4/12 de cesariana com 810g ( Madalena) e 1050g o Zé Maria.
Não os vi porque me adormeceram um bocadinho..acordei sem dores, com as pernas ainda pesadas da epidural e com a sensação de que ..tinha sido operada e pronto!
Fiquei no recobro, sem bébés , com uma espécie de alívio estranho por a situação de incerteza ter terminado e um terror imenso de me virem dizer que não estavam bem ou coisa pior..
Fui para o meu quarto e nesse dia só vi um pequeno filme deles a nascerem gravado pela minha colega anestesista e outro que a neonatologista me veio mostrar..
Não sei bem descrever o que senti...parecia que aquilo não era comigo!
Só os fui ver no dia seguinte , de cadeira de rodas, e um bocado entorpecida ..
Ela estava bem, a respirar sozinha (!) e ele tinha-se ido um bocado abaixo ..
Estive 10min com eles..num misto de..."são meus e nunca mais os deixo" e " o melhor é não me ligar muito porque isto pode correr muito mal" ou pior ainda, o meu maior terror..ficarem com sequelas...
Impossivel de controlar estes sentimentos...as visitas de 4/4h tornaram-se de 2/2 e ao fim de 4 dias estava das 9-21h com eles..esqueci-me das dores, das meias elásticas , de tudo! Em casa, fechei a porta do quarto deles , todo bonito e preparado para os receber..não sabia quando!
O ZM ficou 60 dias internado e a Madalena 74..
Os piores da minha vida..desabafava tudo num diário todos os dias ( que guardei e não voltei a mexer!),  deixei de atender telefones ( tarefa que ficou para o pai) e durante esse tempo não houve fins de semana, feriados..nada..só os altos e baixos que só percebe quem passou pelo mesmo.
Sobreviveram a algumas complicações mas, apesar de tudo,  tiveram muita sorte ( e um olhar constante e acutilante da minha parte)..houve os que tiveram complicações muito graves, os que morreram , os que saíram antes deles..

4. Teve algum apoio após o nascimento dos gémeos?
O facto de ter estado 2 meses e meio numa unidade de cuidados intensivos, rotinou muito os meus cuidados para com eles..tudo lá era uma rotina de 3/3h..comer, mudar a fralda, posicionar, aprenderem a mamar ( que não sabiam)..
Falaram-me de umas senhoras auxiliares da pediatria que faziam noites em casa destes bebês para ajudar as mães e ..foi a coisa boa no meio disto tudo! Começaram a ir assim que foram para casa e lá ficaram 1 ano! Foi um grande investimento da minha parte mas..depois de tudo o que tinha passado, decidi que também tinha que pensar em mim senão rebentava! Fiquei um ano em casa e aproveitei cada minuto deles das 7.30 às 22.30..depois ía descansar. Foram uma ajuda preciosa para eu conseguir dormir e por me ajudarem com questões básicas ( parece q ser médica ás vezes só atrapalha) ..afinal nunca tinha sido mãe!
Os meus pais e principalmente a minha mãe foi outra grande ajuda!! Não posso imaginar o que teria sido isto tudo sem eles!
A minha mãe ficava com a Madalena até à meia noite no hospital ( esteve 15 dias a mais que o ZM) enquanto eu vinha para casa cuidar do ZM e ficava descansada porque sabia que só ela podia dar-lhe tantos mimos como eu..
Ainda hoje me ajudam de tal forma que parece que se tornou o novo objectivo da sua vida ( e não será sempre assim a vida dos pais?!)..

5. Optou pelo aleitamento materno? Se sim, até quando e como conseguiu?
Só consegui tirar leite com uma bomba durante 15 dias ..enquanto bebiam 1-2ml de 3/3 h ainda chegava mas a verdade é que nunca consegui ter uma grande produção..fruto das 29 semanas, do stress, da falta de ter o bebê junto a nós...
Beberam leite humano do banco de leite da MAC durante uns dias e depois passaram a leite especial para prematuros..
Cresceram bem, não têem qualquer tipo de alergias e em casa facilitou um pouco estarem a biberões porque assim podia descansar à noite..
Fiquei com muita pena de não ter leite suficiente. Na altura era a única coisa que podia fazer por eles e nem isso deu! 
As pessoas que conheço que amamentaram gêmeos..só conseguiram um mês mas..cada caso é um caso e envolve tantas variáveis! Não sou fundamentalista da amamentação materna..acho que é importante mas, mais ainda é ter uma mãe tranquila e que consiga descansar sem se sentir culpada ou inferiorizada por não conseguir amamentar.

6. Como é o seu dia-a-dia enquanto mãe de gémeos?
O dia a dia durante um ano foi basicamente passado em casa ( principalmente durante o inverno) com umas idas esporádicas ao Alentejo! Sempre com uma pessoa atrás para me ajudar ( não posso contar com o pai para as lides habituais porque já é um pai -avô e obviamente já passou por isto 3 vezes de modo que agora, está só mesmo para a diversão com eles! Adora brincar e passear mas o resto é da minha conta de maneira que...entre uma ama fica com eles durante o dia ( comecei a trabalhar ao fim de um ano) e a minha mãe..cá nós arranjamos! Já não tenho ajuda durante as noites ( não dá para tudo!), embora continuem a ser bastante agitadas..
Em resumo, tenho que ter sempre uma pessoa comigo principalmente se decido sair! Agora que já andam é mesmo preciso!
Tenho tentado fazer programas adequados para a idade ( 18 meses), embora não hajam muitos! Tento que saiam pelo menos de manhã ou à tarde..ao parque, ás compras comigo, passear num jardim, enfim..às vezes...brincar e mais brincar em casa! 

7.  Que conselhos daria a uma mãe de gémeos?
Conselhos...acho que o mais importante é aceitarmos toda a ajuda que possamos sem nos sentirmos culpadas por não fazer tudo!
É difícil ter 2 bebés no mesmo estadio de desenvolvimento e a terem as mesmas exigências! É importante manter a calma mesmo nos dias mais difíceis ( em que uma pessoa pensa...mas qual é a dificuldade de ter só um???? Do que se queixam essas mães??).
Depois de um início tão atribulado como eu e outras mães tiveram, fica a vontade de os aproveitar a cada minuto, mesmo quando estão mais chatinhos...e agradecer por serem tão mexidos e saudáveis! E é tão bom vê-los crescer e ter personalidades tão distintas, a começarem a interagir um com o outro ( sim, não é logo que isso acontece!) e aos poucos esquecer tudo o que aconteceu !! 

Madalena

Zé Maria

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